Você tem dinheiro pra comprar um Air Max?

Há aproximadamente um mês, Emicida fez uma postagem em seu twitter que acabou virando meme na boca do pessoal que veste a camisa “é tudo mimimi”. Confesso que não lembro com exatidão essas palavras, mas era sobre ele achar o Batman um super-herói branco privilegiado financeiramente e que não via graça nem novidade nisso. O que lembro muito bem é de uma crítica sendo reproduzida: fala do Batman, mas vende uma roupa por mais de R$300.

Vejamos: além de passar por diversos processos a produção de uma roupa custa e, adivinha, custa dinheiro. Principalmente quando todos os processos estão dentro de leis e éticas trabalhistas. O mercado da moda é o segundo maior mercado do mundo e pasme – ou não, é um dos que mais utiliza (infelizmente) mão de obra escrava. Se a tua ‘brusinha’ comprada num fast fashion custou cinco, sete temers, pare pra refletir sobre seu custo de produção. Se não tinha pensado sobre, essa é minha deixa pra isso.

Mas outro dia entro mais a fundo neste assunto. Voltemos a falar um pouco mais de Emicida e a Lab Fantasma. Esse ano desfilou no SPFW a coleção Avuá, com peças minimalistas e algumas customizadas, feitas à mão tendo azul como cor protagonista. “A gente ficou viajando nessa história de futuro e foi assim que a gente chegou no vôo. Mas precisávamos de um signo forte que tivesse atrelado à história do Laboratório Fantasma. Chegamos nos pássaros, que voam em bando. E a LAB é isso, um sonho em coletivo. A gente sonha em bando.” explica Emicida numa entrevista para a revista Estilo.

No desfile teve modelo ex-empregada brilhando e esbanjando beleza na passarela, teve Mc Carol mostrando que preto gordo e favelado consome e se veste bem, teve o pessoal da LAB cantando em bando e teve Fióti, sócio e irmão de Emicida, barrado na entrada de seu próprio desfile.

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O pessoal da crítica lá em cima vai dizer que somos muito mimizentos ao falarmos que esse ato foi racista. Mas a verdade é que o povo se choca quando vê um preto atingindo o topo. Se choca vendo um ou um bando de preto representando com a primeira grife preta desfilando num espaço totalmente embranquecido. E se choca ao ver que Lázaro Ramos está certo em dizer que toda exceção confirma a regra em seu novo livro.

Já disse por aqui num texto sobre afro-empreendimento que preto não é vendido. Preto vende. Mas por que questionar sem pensar duas vezes o valor de uma peça de grife preta? Afinal, você não tem dinheiro pra comprar um Air Max?!

Imagem: Lab Fantasma

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