Arlindão, como é carinhosamente chamado por nós, é um artista atemporal.
Para quem não está na rua, acha interessante notar como a carreira de um artista avançou e enraizou para o posto de ícone. Mas pra quem está nos pagodes da vida, a forma correta de se chamar é Sambista Perfeito.
Toda a pluralidade da obra de Arlindo Cruz parece vir de uma rara carta na manga: sua habilidade mágica de falar com o povo. Seus versos ecoam na voz da massa com harmonias maravilhosas pincelando com um timbre potente e negro. É um privilégio nosso acompanhar Arlindo Cruz durante todo esse tempo.
Camarão que dorme a onda leva (1983)
“Camarão que dorme a onda leva” não é o primeiro sucesso do nosso querido Arlindão, porém é um dos partidos mais emblemáticos que se você não sabe cantar ao menos o refrão, você não é amante do samba de verdade. Gravado em 1983 no disco da madrinha Beth Carvalho e parceria do ainda jovem, futuro ícone e uma das melhores parceiras do nosso Arlindão, Zeca Pagodinho. A faixa mostrou já o quanto a canetada do Arlindão vinha num contexto diferente do que estava sendo feito mesmo com inspiração dos mais velhos.

Seja Sambista Também (1984)
O motivo de Arlindo Cruz ser visto como um dos principais poetas de todos os tempos é dizer exatamente o que nós sambistas pensamos sobre o samba. E isso é pra poucos. E a faixa “Seja Sambista Também” é literalmente o nosso hino nacional dentro do nosso samba. Gravado pelo maior grupo de samba de todos os tempos, Fundo de Quintal, Seja Sambista também é a faixa que leva o título do álbum que é considerado um dos melhores álbuns do grupo.
Show tem que continuar (1988)
O Arlindo é tipo o Usain Bolt, consegue feitos absurdos dentro do samba. E “O Show tem que continuar” é um desses feitos. Como fazer mais uma poesia e extrair mais do amor nosso pelo samba depois de “Seja Sambista Também”? Só Arlindão consegue, família! O show tem que Continuar chegou a ser regravado pelo artista em seu acústico MTV que potencializou ainda mais esse grande sucesso.
O meu lugar (2007)
De Arlindo para Arlindo, o título do disco “Sambista Perfeito” contém a faixa “O meu lugar”, que define realmente quem é Arlindo Cruz. O motivo é que o sambista perfeito é aquele que tá na rua, é aquele que se conecta e entende da origem do movimento. Que é negro, de periferia e com as mulheres na frente. Arlindo Cruz ter sido banda de um orixá como Candeia, sabe perfeitamente o que é o samba.
Além disso, a principal característica do samba é ser generoso com todo mundo. Independente de ser playboy ou de quebrada, o samba sempre vai te tratar e te acolher da melhor forma possível. E o Arlindo é o samba por isso, generosidade em carne e osso, principalmente com outras gerações do nosso samba. Artistas como Péricles, Anderson Molejão sempre cita o quão generoso e poderoso era estar ao lado de Arlindo Cruz. Literalmente a figura de um parente mais velho para todos nós.
O Bem ( 2011)
Se tem uma coisa que Arlindo plantou, semeou e cultivou nesse planto foi o bem. Em toda sua carreira, depoimentos sobre ele representam isso.
Ouvindo a faixa “O Bem” gravado no disco Batuques e Romances podemos afirmar que é uma das poesias mais lindas que um ser humano já ouviu. Liricamente falando, Arlindo Cruz mostrou algo que até então a gente não tinha citado, o poder divino, espiritual que ele possui em sua arte.
O poder de conseguir expressar em palavras e melodias o que os orixás dizem em seu coração. E essa música é um abraço quente para qualquer um que busca o bem dentro de um sistema capitalista selvagem que nós vivemos.
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