Há muito tempo tenho reparado que são poucas as situações de filmes, séries ou mesmo as piadas que me fazem rir, que me deixem confortáveis o suficiente para rir de algo ou de alguém.
Falar de riso é algo muito sério, pode parecer contraditório, mas rir é a liberdade suspensa numa linha muito ténue entre o engraçado e a humilhação.
Por exemplo, eu falo bastante por aqui sobre séries, especificamente séries que tenha como protagonistas mulheres e/ou homens negros, mas não consegui definir ainda – além de extremamente constrangida – como me sinto depois de assistir Chewing Gun.
Aclamada como uma das séries de comédia britânica mais divertidas dos últimos tempos, Chewing Gun é escrita e protagonizada por Michaela Coel, que dá vida a personagem de Tracey, uma menina de 24 anos que mora com a irmã e mãe num conjunto habitacional em Londres e após ano de namoro sonha em deixar de ser virgem.
Sabe onde reside a minha falta de riso? No humor britânico, que costuma ser mais ácido e nos estereótipos. Tracey passeia por alguns deles, naquela linha bem tênue que citei lá em cima. Eu não consegui achar graça em nenhum dos 12 episódios divididos em 2 temporadas e procurando críticas especializadas que embasassem a minha, fiquei só, pois parece que a internet inteira está encantada com Chewing Gun.
Mas nem tudo está perdido no mundo das risadas e das comédias, pois encontrei Trevor Noah.
Comediante sul-africano que faz uma sátira política de pouco mais de 1 hora em “Afraid Of the dark”, sem cair em nenhuma das piadas que se escoram em minorias na tentativa de serem engraçadas.
Podemos fazer rir falando do opressor, podemos mais ainda, podemos rir falando sobre imigração, colonialidade, racismo e sexismo sem cairmos na mesma pasmaceira de sempre, que é rir de quem a décadas vem sendo espezinhado.
Estamos cansados de sermos motivos de risos.
Engraçado é quando os dois lados acham graça.
Imagens: Cinema 10 e trend chaser