Dear White People. Se você não sabe o que é, procure saber.
Justin Simien, escritor e diretor do filme e da série era estudante da predominantemente branca Universidade de Chapman em 2006. E durante a sua graduação, Justin soltou várias pérolas no twitter sobre as piadinhas, expressões e comportamento racistas que percebia na Universidade, após um expressivo engajamento viu que ali existia material vasto para o que viria ser o filme, ele fez uma campanha de crowdfunding onde era esperado a arrecadação de 25 mil dólares e acabou alcançando mais de 40 mil.O filme estreou em 2014 e ganhou diversos prêmios, entre eles, o Festival de Sundance e o Festival de São Francisco e a série com 10 episódios de aproximadamente 30 minutos estreou na Netflix na última sexta feira (28/04).
A série passou por mudanças de elenco em pelo menos 3 personagens: a personagem Sam White que era interpretada no filme pela atriz Tessa Thompson, na série é interpretada pela atriz Logan Browning, o jornalista Lionel que antes era interpretado por Tyler James Williams, na série é interpretado pelo DeRon Horton e a personagem Colandrea Conners que no filme era interpretada pela Teyonah Parris e na série é interpretada pela atriz Antoinette Robertson e com episódios que são dirigidos pelo próprio Justin Simien e dirigidos também por Tina Mabry (escritora e diretora de alguns episódios de Queen Sugar) e Barry Jenkins (Moonlight).
A série é o filme até o terceiro episódio, quando Justin Simien escolhe contar a mesma história do filme, para que quem não tenha visto o filme consiga entender o que ele irá aprofundar nos episódios seguintes. Justin justifica a série dizendo que Sam White é o fio que liga os demais personagens, porém ela não é a protagonista, e isso fica explícito na série inteira, onde em cada episódio é mostrado de forma mais ampla um personagem diferente.

A série já começa com uma aspas de James Baldwin – veja o doc Eu não sou seu Negro – “O paradoxo da educação é que ao se ter consciência passa-se a examinar a sociedade onde se é educado”.
Mas saindo do aspecto técnico e indo pra uma impressão bem pessoal…
Dear White People é sobre as infinitas possibilidades de ser negro. Sem caixas, sem estereótipos, sem caricaturas. A série discute identidade, como somos e como nos apresentamos pro mundo. Como somos contraditórios e humanos, militantes ou não. Negros com pensamentos múltiplos, tons de pele diversos, participantes de grupos e coletivos diferentes, mas que se juntam quando a luta é pelo fim das práticas racistas na Universidade de Winchester.
DWP discute relação interracial, colorismo, o peso da militância diária, hipersexualidade, construção de masculinidade e as diversas formas que o racismo se manifesta – seja estruturalmente ou no âmbito das relações interpessoais. Seja na absurda festa de black face ou quando acusam Sam White do infame “”””racismo reverso””””. Ela, de uma forma tensa e bem cruel mostra que um diploma ou dinheiro, não livra o corpo negro de ser vítima de violência policial, como tantas e tantas vezes já vimos na vida real, e que a cor da pele chega antes de qualquer discurso ou abrir de carteiras.
A série coloca o negro (sujeito) – e aqui temos 95% de personagens pretos – como indivíduo e não como uma grande massa amorfa onde todos pensam, se comportam e agem da mesma forma, ela nos permite perceber por exemplo que, a amizade entre um cara hipersexualizado hétero e um menino gay é perfeitamente possível e sem direitos a quaisquer piadinhas, nos permite perceber também, que é possível, normal, natural, não ser violento somente por ser militante.
Um dos momentos mais divertidos da série é a sátira de Scandal – série da magistral Shonda Rhimes que já está na 6ª temporada e que eu não perco nenhum episódio.
Cara Gente Branca incomoda a branquitude – vide o boicote que a netflix sofreu e a quantidade de negativações que o trailer teve no youtube (mais de 420 mil) pq pela primeira vez ela, a branquitude, é vista como o outro, não como centro. Pela primeira vez ela é a parte e não o todo, incomoda porque por dez episódios inteiros, essa(s) história(s) não é(são) sobre ela.