Sample visual: As ilustrações de Amora Moreira

O sample nasce da memória e reconstrução, da união de diferentes universos para dar vida à  uma arte nova, sincera. Luciana de Magalhães Rocha Moreira é a Amora. Suas ilustrações nascem da experiência e tentativa, daquilo que ela observa e vê ao seu redor, da descoberta. 

A família de Amora é toda do Rio de Janeiro, ela me conta. Sua parte mais próxima vive na zona norte da cidade, em Cascadura. A artista tem as duas partes da sua família conectadas até os dias de hoje, o que a conforta pois em cada canto do Rio de Janeiro existe um pedaço importante da sua história.

 

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Amora puxou traços interessantes do seu lado paterno da família. Seu pai, Cosme, foi por muitos anos bancário no Itaú, trabalhava de madrugada, então era bem comum durante as apresentações da escola de Amora ele dar leves cochilos. Mas isso nunca a incomodou, já que sempre valorizou as tentativas dele ser um pai melhor todos os dias.

Ela me conta sobre o quão importante foi ele introduzi-la no desenho, mas principalmente ser um pai presente, acompanhando todos os seus passos em todas as suas fases. 

 

Ela cita seu avô, Miguel Arcanjo, como uma personalidade de Cascadura. Ele é envolvido no samba até os dias de hoje. Comunicativo, tem essa forma aberta de se expressar e conhecer gente nova, característica que dá vida à arte de Amora e à necessidade de criar — principalmente por ganhar pedaços de tecidos que sobram no barracão, guardados até hoje.

 

Um ponto importante para seu entendimento como mulher preta vem das experiências ao lado se sua avó Alice, uma mulher guerreira. Sua avó é bordadeira e empregada, e levava a pequena Amora para Paquetá. Apesar da diversão que ela vivia quando criança, ao ficar mais velha percebeu que era vista como a neta da empregada, além de outros pontos que a deixavam desconfortável. 

Sua avó materna, Nadir Vitória, também trabalha com costura, assim como sua mãe, Monaliza, que é técnica em costura, formada em pedagogia e pós-graduada em matemática. As duas são inspirações importantes na vida pessoal e artística de Amora, com paciência e rigor impecáveis.

 

Amora conta também sobre suas duas irmãs, Mariana e Poliana, com 16 e quatro anos, respectivamente. Uma família grande e unida, sendo todos, sem exceção, cruciais para sua formação como mente criativa. 

 

Amora sempre foi movida a fazer o que lhe agradasse e sempre amou a importância do fazer bem feito, apresentar um significado. É uma ávida leitora sobre assuntos de seu interesse, um reflexo do que ela é enquanto artista.

 

Ao longo de sua formação, Amora trabalhou em dois museus: o Museu Nacional e o Museu da República, sendo o primeiro na mediação com o público e o segundo na restauração. 

Naquele período, ainda na adolescência, ela percebeu o fato de poucas pessoas negras estarem na posição de protagonismo nesses ambientes, assim como nas aulas de história. 

 

A partir daí, Amora passa a estudar suas raízes, tendo seu primeiro clique na criação de seu coletivo com meninas negras, o Meninas Lélia (2015), no Colégio Pedro II, em homenagem a Lélia Gonzales. A ilustradora cita essa fase como um momento importante para o seu entendimento como mulher negra. 

 

O segundo “clique” de Amora surge no graffiti, quando começou a pintar e perceber que era sempre vista como a mulher que acompanhava o cara grafiteiro, não como a mulher grafiteira. Daí, Luciana passa a se expressar cada vez mais como Amora.

 

Nesse período, a artista se une às meninas de seu antigo curso para criar um novo coletivo com mulheres que pensavam como ela e, em um curso realizado apenas para mulheres negras, ela conhece as integrantes do seu coletivo atual, a PPKREW  (Power Pussy Krew, 2016).

 

Amora me conta sobre a Dona Bomba Graffiti Shop (2017), a primeira loja de graffiti do Brasil, gerida 100% por mulheres e criada por integrantes da PPKREW. Amora contribui com a loja trabalhando em vários setores, de designer até vendedora, quando necessário.

A PPKREW tem mulheres de diferentes pontos do Rio. Elas buscam mobilizar a cena para chamar mais meninas de outras esferas para conhecer seu trabalho. O coletivo produziu a Reú Daz Mina, um evento mensal que durou todo o 2018 e teve como objetivo agregar ideias e pessoas, com as mulheres da crew as organizadoras e produtoras dos mutirões de graffiti. 

 

Ao se envolver com o hip-hop, Amora viu sua vida mudar. Ela cita o quinto elemento dessa arte como aquele pelo qual ela mais é apaixonada, levando o conhecimento e a experiência dia após dia na sua caminhada, estando aberta à troca, ao contato, às novas e velhas ideias.

 

O terceiro clique de Amora surge com o Estúdio Escola de Animação. Lá, ela estudou entre 2016 e 2018 e vê essa experiência como algo importante e inovador. Antes, Amora produzia apenas de forma manual, então o maior aprendizado neste estúdio foi o desenho digital, estilo de ilustração que ela mais utiliza hoje em dia.

 

O último “clique” de Amora acontece quando ela sai da Escola de Belas Artes e tenta um novo vestibular. A princípio, ela estava sem direção sobre qual novo curso embarcar, mas de última hora com o Design-ESDI. Hoje, Amora se sente realizada com a faculdade que cursa e cada vez mais vê novos olhares para oportunidades e novos desenhos.

Amora hoje é um sample, é mistura. Amora é PPKREW, Dona Bomba, ilustradora, trabalha para empresas, realiza trabalhos que jamais imaginou fazer, como para o Cartoon e o Google, além de seus projetos com as tirinhas do letramento racial, junto da autora Kiusam de Oliveira, que lhe deu grandes oportunidades para unir as caminhadas.

 

Amora hoje, além de todos os trabalhos que realiza, foca em terminar a faculdade e projeta uma residência artística com a ONG Global Grace e o Bela Maré. Ela me diz que pretende voltar a estudar animação e mapeia projetos pessoais envolvendo rotoscopia. 

 

Amora se aventura editando e gravando vídeos, sempre com a essência do sample. Apesar de não possuir metas tão longas, ela sente que nada deve ser planejado ao ponto de tirar sua liberdade de criar, buscando cursos e aprendizados, dando valor a sua família, amigos próximos e pessoas importantes na sua formação profissional. Amora hoje se vê com um olhar maduro e cada vez mais esperançoso em aprender mais. Uma artista que só cresce e motiva.

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