O ano que eu disse não… e Shonda Rhimes disse sim

O ano que eu disse não começa com uma viagem de fim de ano pra fora do Rio de janeiro – o primeiro fim de ano que não estive em terras cariocas – 10 dias de reclusão tecnológica num lugar que responde pelo nome de Saco do Mamanguá – Procurem esse lugar-.

Ficar sem conexão de internet foi uma prova, tipo abstinência ferrenha nos dois primeiros dias, depois o corpo meio que acostuma a não pegar o celular a cada 10 minutos. Foi a possibilidade de me conectar com a natureza a minha volta, com a pessoas que estavam comigo e com o livro que tinha levado – O livro do ego, do Osho -, o que me proporcionou uma pequena revolução: entender quais são os atos que fazem você maior e quais são meros reflexos do ego inflado é a chave.

Percebi que no ano que findava, 2016, eu tava dando sim pra todos e pra tudo e me dando incontáveis nãos, que a solitude – a glória de estar sozinha – um estado que me era tão caro, já não estava sendo possível, estava ao tempo todo cercada de pessoas, fazendo incontáveis projetos, agradando a todos e esquecendo de agradar a mim mesma.

Comecei o ano de 2017 dizendo não. Não a tudo e todos que me afastavam de mim mesma, que me exigiam cada vez mais em troca de quase nada, me afastei de tudo que inflava meu ego e me fazia estar e me sentir acima das pessoas que eu só queria estar ao lado. Não conseguia ter tempo pros amigos, pois tentava o tempo todo dar conta das expectativas dos outros. O ano do não tinha se iniciado…

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Comecei o ano sem jobs. Nada, nadica, nenhum. E a expressão “Sentir-se como um saco de lixo na ventania”, passou a fazer muito sentido pra mim. Isso é caminho aberto pra que? Todas as inseguranças e medos virem a tona, questionamentos sobre as minhas capacidades bateram forte.Mas depois dos 30 a gente aprende a ser mais resiliente e a crer de verdade no tempo.

Março chega delícia, cheio de surpresas e uma delas cai direto no meu colo. Eu amo séries, assisto a mais de 20 e tenho um app pra dar conta de saber dos episódios novos (TVshow Time), e descubro que Shonda Rhimes – Deusa, figura no panteão de mulheres para se inspirar, lançou um livro. (Insira aqui alguém muito feliz por que além de ver as séries que ela faz ainda vai lê-la).

O Livro da Shonda está categorizado como autoajuda, eu inventaria um novo segmento para as livrarias – trampei em uma por 5 anos – chamado: Senta aqui com as amigas e bora conversar?! Porque vamos combinar, o que ela faz nesse livro é se desnudar (to fazendo isso com esse texto, ou você acha que me mostro assim pra todo mundo? na na ni na não…), colocar sob os holofotes todas as suas fraquezas e fragilidades e com isso nos mostra que para sermos super mulheres, temos que primeiro sermos humanas, com todas as complexidades, contradições e imperfeições que isso acarreta.

Shonda usa um termo chamado P.U.D. – Primeira, Única e Diferente – e quem é mulher negra sabe bem o que esse termo significa, ela fala sobre quebrar tetos de vidro, sobre criar 3 filhas e ser dona de Shondaland e sobre essa cobrança absurda que colocamos sobre nós mesmas de sermos impecáveis.

Percebi que o SIM que a Shonda Rhimes fala no seu livro “ O ano em que disse sim”, era o sim pra nós mesmas. O sim para situações que nos dão medo, que nos tira do lugar confortável da não exposição, que nos coloca no lugar da vulnerabilidade, sim para tudo que parece loucura, sim pra tudo que for deslocado.

E na semana que to lendo esse livro, Kendrick lança DAMN – um álbum estupendo – e na faixa PRIDE alguns versos saltam aos olhos:”I understand I ain’t perfect I probably won’t come around – Entendo que não sou perfeito, provavelmente não retribuirei as suas expectativas -”, “I can’t fake humble just ‘cause your ass is insecure – não posso fingir humildade apenas porque você é inseguro” e Shonda Rhimes diz: “Não me tornar menor para que outra pessoa se sinta melhor”.

Isso soa arrogante né? Bem, só se você fizer parte dos privilegiados, dos que nascem e são posicionados no mundo com a certeza de que devem, merecem e serão servidos.

Façamos um teste: Como você reage ao receber um elogio? Se envergonha? Acha que quem te elogiou está equivocado? você nega as suas capacidades? Então, é disso que estou dizendo, dessa nossa dificuldade de nos vermos como alguém com méritos conquistados e não cedidos.

A gente se cobra absurdamente em todas as instâncias das nossas vidas, somos as nossas piores juízas, matamos vários leões todos os dias e no menor sinal de reconhecimento do outro, nos diminuímos, fazemos de conta que todos os louros das nossas vitórias, são frutos do trabalho e do esforço de outra pessoa, tapamos o rosto com vergonha e receio de admitirmos o quanto somos potentes.

SIM. essa palavrinha mágica que a Shonda usa infinitas vezes no seu livro-conversa entre amigas e PRIDE,canção-desabafo que Kendrick lançou no mundão e que temos muuuuuuito medo de usarmos com nos mesmas. São duas das possibilidades que podemos incorporar nas nossas vidas de forma integral: Dizermos mais SIM pra nós e nos orgulharmos dos nossos feitos. E Num ano que começou com muitas negativas, se abrir pro mundo através do sim pra mim, tem me ensinado que to no caminho certo. Honrando o meu processo e com muito orgulho de quem tenho me tornado.

Imagem: Give me a book

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