5 anos após o lançamento oficial de Blond será que mesmo nos dias atuais o disco ainda atende as expectativas?
Em 2016 nascia Blond:
Após 4 anos, 1 mês e exatamente 3 dias depois de Channel Orange, em um sábado à tarde, Christopher Francis Ocean, disponibilizou através do website “boysdontcry.co” o tão aguardado álbum “Blond”. Alguns dias atrás, na mesma semana, antes do visual de “Nikes” faixa que nos introduz ao disco, Frank nos abençoou com a graça de seu segundo álbum feito sob contrato com uma gravadora.
Endless e Boys Don’t cry
Endless trabalho disponibilizado pela Apple music sob seu antigo selo a def jam, precedeu e nos trouxe definitivamente material fresco do artista que não víamos em um compacto há anos, porém, esses dois lançamentos fizeram todo sentido quando Frank anunciou estar cortando relações com a gravadora e assumindo “Blond” como seu primeiro álbum independente.
Junto do disco tivemos uma revista disponibilizada em apenas algumas lojas em Nova York, Los Angeles, Chicago e Londres, essa sim intitulada como “Boys Don’t cry”contando com uma segunda versão do álbum, capas alternativas, uma entrevista e alguns poemas escritos por Kanye West e Tyler, the creator.
Blond ainda soa atual?
O mundo aguardava notícias sobre o álbum e simples movimentos que o artista fazia, cada post em suas contas no twitter e Tumblr se tornavam murmúrios na cena criando todo um hype para o seu segundo disco mas o conteúdo esperado dentro do disco não era o que todos aguardavam? Nessa nota, fizemos um pequeno panorama das últimas colaborações e trabalhos do artista até as faixas do disco e o marketing envolvido por trás dessa obra para assim chegarmos (ou não) em uma resposta final.

O processo de criação:
No ano de 2013, Frank trabalhou em conjunto com Tyler, the creator em seu terceiro álbum de estúdio Wolf nas músicas “Bimmer”, “48” e “Slater”. Alguns meses depois trabalhou em conjunto com Earl Sweatshirt na faixa “Sunday” do seu debut álbum Doris.
Até aqui Frank Ocean ainda colhia os louros de seu disco de estréia, entrando em turnê e na última premiação (após o álbum) o artista ganhou um grammy, se firmado como um dos novos expoentes da música no século 21.
Com poucos shows (mesmo estando em turnê), Frank ainda sim conseguiu virar todos os holofotes para si. A declaração de sua homossexualidade nesse ponto deu um ar de liberdade para o glorioso trabalho que já circulava pelos ouvidos do mundo todo. A comunidade negra fervilhava com aquela obra, aqui no Brasil todo assíduo fã de rap ouviu ou pelo menos conhecia seu disco, fato importante na medida em que Frank é um cantor de R&B e mantém o Hip Hop como secundário dentro de sua obra.
A diferença de tempo entre os lançamentos:
Vivemos num mundo bem diferente de quando Frank Ocean lançou Channel Orange. Não tínhamos Snapchat e hoje Tik Tok, Prince, Bowie e Nelson Mandela estavam vivos, Chance the rapper, The Weekend, Travis Scott e Childish Gambino não tinham se firmado como grandes visionários dentro da indústria musical e o dólar não passava de R$ 2,40.
Nesse meio tempo Frank Ocean sumiu do mapa. Em uma era de produção prolífica para atender o consumo imediato e descartável dos fãs, o músico se trancou para lapidar novas músicas. Ignorar o ditado Out of sight, out of mind, principalmente nessa fase da década envolvendo globalização e a individualidade. Aqui, “sumir” e “reaparecer” é uma tarefa árdua e Frank Ocean conseguiu.
Nasce Blond:
Em Blond um time imenso de colaboradores participa e transmuta a obra. Jamie xx e Rostam Batmanglij assumem a produção de Ivy. Beyoncé faz uma participação sutil em Pink + White, canção produzida por Pharrell Williams. Em White Ferrari e Seigfried, trechos de letras compostas por Elliott Smith e The Beatles que acabam se encontrando dentro do ambiente montado pelo britânico James Blake e assim pequenas brechas que servem de passagem para nomes como: Jonny Greenwood, Jazmine Sullivan, Sampha e André 3000.
Kendrick Lamar surge discretamente em Skyline To, música que conta com a produção do velho amigo de OFWGKTA, Tyler, The Creator, valorizando mais uma vez a parceria entre dois visionários da última metade de década.
Samples e escolhas de produção:
Uma obra não pode ser perfeita apenas com a criação de um humano e a capacidade de orquestrar obras a seu favor, valorizando o fundamento principal que é dar vida a algo que nunca foi feito. Blond sobrevive na ativa interferência de diferentes vozes e produtores que são o ponto chave do trabalho.
Se tratando de uma obra essencialmente colaborativa, com conceituação explícita na adaptação de músicas produzidas por outros artistas, tendo como exemplo todo o catálogo de samples e adaptações que passam pela obra trazendo veteranos como: The Isley Brothers, Stevie Wonder e até Gal Costa. Essas escolhas fizeram de Blond um quadro imenso abstrato pintado pela criatividade de grandes de influências, recortes e fragmentos musicais, produto do longo período de isolamento do artista.
Blond é uma das obras primas da música:
5 anos após o lançamento de Blond vemos que Frank Ocean com essa obra deu mais um grandioso passo em sua carreira como artista, causando toda uma onda de mudança na indústria musical, criando movimentos no cenário como a nota da apple cancelando parcerias de exclusividade como fez com Drake em Views e o fim de seu contrato com a Young Money.
Se Channel Orange é um dos melhores discos de todos os tempos, Blond não fica para trás, mostrando um artista gigante com uma estratégia: ser independente e poder viver longe dos holofotes que o Mainstream direciona, voltando algumas casas no quesito visibilidade mas criando uma brecha para novos artistas que querem estar longe de contratos e apenas expressar sua arte.