O premio Multishow a cada ano se supera no declínio da entrega do espetáculo. É assustador o tamanho da vergonha alheia sentida pelo público vendo o premio de casa. Se você se sentiu a vontade, eu te respeito muito.
Câmeras balançando na performance dos artistas, takes abertos sem sentido nenhum, apresentadores visivelmente constrangidos pelos inúmeros erros de transmissão e performances muito meia boca marcaram essa edição da premiação e, pelo o que parece, não vai mudar nunca. A cada ano que passa sempre ficamos a espera de um premio multishow que se coloque a altura da correria dos artistas e da alta posição que a cultura brasileira vem conquistando no entretenimento mundial. O sarrafo de entretenimento brasileiro se mantém muito baixo, com a total conivência dos próprios artistas, público, produtores e empresários que não se esforçam para mudar esse panorama. Artistas brasileiros com números que não devem em nada para artistas internacionais que não tem uma premiação a altura.
O que também não está a altura, é a percepção do nosso público sobre o que é troca, gratidão e cabresto. Vamos aos fatos: Ludmilla já era uma cantora e compositora bem sucedida, com vários hits nas costas e rica muito antes de “Onda Diferente”. Ela evoluiu absurdamente ao longo dos anos, visto as assustadoras performances dela no programa “Show dos Famosos” em que ela ganhou de lavada. Por que caralhos uma galera vem exigindo uma certa gratidão de Ludmilla, pelas conexões que Anitta fez para o impulsionamento de uma track de sucesso, dentre as várias que ela já havia emplacado?
O que aconteceu ali, e o público precisa entender, foi uma troca. Troca essa extremamente bem sucedida pros 3 lados. Anitta, Ludmilla e Snoop Dogg, que apesar de muito bem sucedido no mercado, renovou o seu público por aqui. Foi um ganha ganha que deu bom pra todo mundo. Ludmilla canetou uma track com uma potencia absurda, Anitta impulsionou, Snoop colocou a cereja no bolo e pronto. Tá realizado o hit.

Dentre as inúmeras teorias de conspiração que rondam a minha mente, eu tenho uma que eu boto a minha mão no fogo que é correta. Foi imposto na mentalidade da maior parte dos brasileiros que era obrigatório ser grato por tudo que lhe é colocado na sua frente, seja bom ou ruim. Isso faz com que essas pessoas foquem mais no agradecimento do que na visão de que a sua vida poderia ser de fato melhor. Para a elite, socialmente falando, é mais eficaz ter a grande parte da população (pobre, preta e periférica) tendo gratidão pelo o pouco que tem ou com uma consciência de que ela pode ter mais?
Eu vejo pouquíssimos brancos ricos humildes. Porque eles simplesmente não tem cabresto. Eles só vivem, só fazem. Se sentem pertencentes aquele lugar de potencia e de privilégio. Ninguém cobrou agradecimento do Papatinho á Anitta. Ninguém cobrou agradecimento da Anitta para com os seus empresários e produtores. Só cobram agradecimento da mulher negra, que já furou a bolha faz tempo. Só que esse cabresto já foi rasgado há um bom tempo. E sobre isso, eu não tenho vergonha nenhuma.