Eu já tive tantas fases dentro da Música que fica até difícil dizer a partir da onde tudo começou; a verdade é que ela sempre esteve ali, o tempo todo. E ela se fez presente de uma tal maneira que tentar evitá-la seria um dos maiores erros que eu, conscientemente, poderia ter cometido. Foi no final dos anos 90, época dos hits de Axé e das musas teens do Pop brasileiro estampando as capas dos cadernos na escola, foi naquela época que eu comecei a entender o que era Música, e as minhas referências eram poucas naquele tempo mas intensas o suficiente pra se tornarem lembranças reais do meu passado: o vizinho maluco que escutava Metal o dia inteiro, Só Pra Contrariar tocando no último volume nos churrascos de domingo, tudo isso me fez entender algo que é uma peça-chave pra quem se atreve a entrar nesse universo.
— Música é identidade e cada um tem a sua.
Na minha casa era assim ,quando os LPs de MPB não estavam tocando no rádio da sala, era da TV que o som iria surgir e eu posso dizer que eu vivi o surgimento de uma era crucial pra história da música, os videoclipes dominavam os programas em todos os canais da televisão e eram vistos como a grande revolução do audiovisual, algo novo e ousado que a mídia veiculava em ritmo exaustivo porque todos queriam ver de novo.
Até então muita música já havia passado pelos meus ouvidos, mas o primeiro som que me cativou de verdade foi uma faixa do By The Way, oitavo álbum lançado pelo Red Hot Chilli Peppers e apesar de não ter nenhuma informação a mais sobre nada daquilo a melodia se fixou na minha cabeça, ao ponto de sentir uma expectativa tão real toda vez que escutava aquela bateria que introduzia a canção e logo entraria a voz do Kiedis com aquele flow e timbre inigualáveis que só não eram mais fantásticos que o som da guitarra do Frusciante que aparecia no meio do música e era sem dúvidas a melhor parte, exatamente a parte que me fazia querer escutar aquela música quantas vezes fosse possível e viria a ser um dos primeiros acordes que eu aprendi a tocar assim que comprei a minha primeira guitarra muitos anos depois.
Tudo isso durou um longo tempo e foi uma fase maravilhosa, a Música ainda era uma novidade e eu não fazia ideia da importância singular que ela viria a ocupar na minha vida, a Música se tornou um álibi, o melhor que eu poderia ter encontrado, é a musa que evoca o meu fascínio pela vida, tão poderosa e gloriosa que através de mim consegue ainda influenciar aqueles que estão a minha volta.

E mais tarde eu realmente entenderia que uma das suas mais fantásticas propriedades é a de ser Infinita, e por tantas vezes mais e com as mais diferentes faces ela re-surgiria pra mim, e sempre com a mesma capacidade de provocar esse sentimento tão instigante, e arrebatador que se tornou gritante o quão era necessário que eu fizesse alguma coisa a respeito, e assim o fiz.
Kennya Rosa – Dj