“Tupac disse:
THUG LIFE = Vida bandida, quer dizer:
The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody ou o ódio que você passa pras criancinhas fode com todo mundo.
Presta atenção nas iniciais!
T-H-U-G-L-I-F-E
isso quer dizer que o ódio que a sociedade nos dá quando somos pequenos morde a bunda dela quando crescemos e ficamos doidos.
Entendeu?”
Trayvon Martin, Philando Castile, Tamir Rice, Alton Sterling, Oscar Grant, nos Estados Unidos. Roberto Silva de Souza, Wilton Esteves Domingos Júnior, Carlos Eduardo Silva de Souza, Wesley Castro Rodrigues, Cleiton Correa de Souza, no Brasil. O que todas essas pessoas têm em comum? Todas são negras. Todas viraram notícia depois de serem mortas pela polícia. Nenhuma delas estava armada.
Quando li “Entre o mundo e eu” do Ta-Nehisi Coates o sentido de carregar um corpo negro pelo mundo bateu de forma cruel. Esse livro é basicamente uma carta de um pai ao seu filho, quando este completa 15 anos, explicando para ele o verdadeiro significado de ser negro nos Estados Unidos.
“Você sabe agora, se não sabia antes, que os departamentos de polícia de seu país foram munidos da autoridade para destruir seu corpo. Não faz diferença se essa destruição é consequência de uma reação infelizmente exagerada. Os destruidores raramente serão considerados responsáveis. Na maior parte das vezes, eles receberam pensões.

E a destruição é meramente a forma superlativa de uma dominação cujas prerrogativas incluem revistas, detenções, espancamentos e humilhações. Tudo isso é comum para pessoas negras e tudo isso é antigo para pessoas negras. Ninguém é considerado responsável.
Você não pode deixar de olhar pra isso jamais, deve sempre se lembrar que a sociologia, a história, a economia, os gráficos, as tabelas, as regressões, tudo isso acaba atingindo com grande violência, o corpo”.
Esses fragmentos do livro, dentre inúmeros outros, falam direto com o “O ódio que você semeia” da Angie Thomas, que conta a história de Starr, uma adolescente de 16 anos que vê seu melhor amigo ser assassinado na sua frente por um policial. Não é preciso apontar a cor de Khalil.
Starr estuda num colégio de ponta e mora num bairro periférico, logo se vê dividida muitas vezes entre 2 mundos, por diversas vezes não se encaixando em nenhum dos dois e no meio de todo o turbilhão de ser adolescente e estar inteiramente num período de descobertas, ela é jogada numa situação de extrema violência quando é a única testemunha do assassinato de seu melhor amigo.
O livro é lotado de referências da cultura urbana como: 2Pac, a série Um maluco no pedaço, os tênis Jordans, Kendrick Lamar e referências que são parte dos Movimentos Negros: Os Panteras Negra, Martin Luther King, Huey Newton, Malcolm X, os Dez pontos do Partido, Emmett Till, de forma que quem é minimamente ligado a esses dois pontos, se vê um pouco mais familiarizado com a história.
O ódio que você semeia da escritora Angie Thomas é sobre ter voz, sobre não silenciar, sobre quebrar correntes, soltar amarras.
Sobre contar as próprias narrativas.
Obs: O livro vai virar filme em 2018 e está com quase todo o elenco definido.