Futebol é a síntese da vida – Parte 1

Este é um texto dividido em partes, porque provavelmente eu ainda vou usar muito essa metáfora. Pode ser na próxima semana, ou daqui dois meses — tudo vai depender do que os meus rivais e o meu próprio time irão aprontar daqui em diante. Mas tudo isso pra dizer: surreal, o Flamengo tá raspando tudo. Não vai ter taça que o Flamengo de Jesus não levante, e ao contrário do que pode dizer o mais cético dos flamenguistas, não é zica reversa. 

 

Sem comparar grandezas, números e jogadores, porque eu não poderia fazer isso, todo mundo sabe reconhecer quando vê um campeão jogar. Ante ontem, no jogo de volta da semi-final, eu só pude ver uns 20 minutos finais de jogo. E afirmo: não tem nada que esse rubro-negro faça que você consiga dizer “é, por aí dá pra furar”. Não dá. O campeão de tudo de 2019 dá gosto de ver, e isso é muito difícil de assumir sendo qualquer carioca que não carregue preto e vermelho no peito.

 

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Muito dessa repulsa em assumir que os caras estão bons demais vem do fato de que, porra, é o Flamengo. Ninguém gosta de assumir que eles são superiores em alguma coisa. A zoação fica difícil, as rodas de conversa beiram o insuportável. Flamenguista é chato a beça, e ter de assumir que cada elogio deles é realidade, e não clubismo, é duas vezes mais chato. Mas acontece. 

 

Vendo a campanha de Jesus em 2019 eu me lembro com memória turva e muita saudade ali do final da última e do começo desta década. Naquela época, era o meu time quem disputava tudo lá em cima, irritava os outros, cantava que ia comprar todo mundo. Eu era uma adolescente, mas era chato mesmo. Por brincadeira do destino, nas últimas duas vezes que vi meu time levantar uma taça nacional, eu namorava um flamenguista. Olha, era chata pra cacete. Não aceitava uma linha de zoação e, cá entre nós, no fundo a gente sabia que a corda — daquelas campanhas incríveis — iria arrebentar. E a gente não ligava.

 

Os anos passaram, as gestões ruins ficaram, o dinheiro foi embora. Quando olhei pro lado, era terra arrasada, um plano de saúde falido e um time na corda bamba. E como tem sido nos últimos cinco anos: sempre um desespero. E aí que vem essa comparação do futebol com a vida, que provavelmente alguém já me ouviu dizer e provavelmente ouvirá muitas outras vezes. Um dia a gente é bi em três anos, no outro a gente vê um rival levar tudo. Até o Mundo. 

 

E tem coisa mais frustrante e cíclica que a vida, pois? Eu sei que você já passou pela época de coisas incríveis, o topo do mundo, e pensou que nada poderia te abalar. Quando as coisas começaram a desandar, você mal acreditou. No primeiro momento, a gente reluta. No segundo, a gente aceita mas tenta se convencer que não é tanto assim. Depois, a gente só senta e espera passar, porque sabe que vai. É a sua vida, mas pode ser a fase do Gabriel Barbosa, também. 

 

Ontem, antes do jogo, estive conversando sobre o Flamengo. E hoje, depois do jogo, também. Em resumo, minha opinião é que é um bom ano, que vai passar, não vai ser bicho-papão pra sempre. E eu tive um estalo: se fosse um Real Madrid da vida todo mundo estaria parando os fins de semana pra ver jogar. É só o que temos feito nos últimos anos. 

 

Diferentemente dos últimos campeões, o time do Flamengo, repito, dá gosto de ver. É como ver realmente uma coisa histórica, única. Por bobagem, teimosia ou inveja, confesso, assisti muitos jogos do Flamengo com o nariz torcido. No jogo ida da semi-final, te juro que até torci um pouco a cada gol anulado. 

 

Mas entrei na fase da aceitação. O Mais Querido é o melhor time do Brasil hoje, considerando aproveitamento e chances de títulos. Dito isto, dia 23 estarei em algum bar, vendo o jogo e vendo a rua se colorir quando o apito final rolar. Não com felicidade, mas com paciência: como qualquer fase ruim da vida, uma hora passa. E dá-lhe River.

 

 

 

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