Lembro que ano passado quando Moonlight foi lançado eu enlouqueci, pela história contada, pela perspectiva centralizada, por colocar em questão a construção de masculinidades negras, pelo elenco, tanto na frente das câmeras quanto por trás serem majoritariamente negros.
Quando a representatividade – essa palavrinha da moda – é discutida, é pra longe de ser só protagonismo negro nas telas, é o questionamento de quem está pensando, roteirizando, dirigindo as produções que visam ser minimamente inclusivas.
Mas enfim – voltando – analisando o filme, as cenas, a fotografia, comecei a buscar material audiovisual que tivesse essa mesma pegada, com uma narrativa focalizada, com os corpos negros ocupando outros espaços, contando outras histórias e mais do que isso, que se a violência estivesse presente, ela fosse direcionada de outra forma, que não incidisse diretamente nos corpos negros, colocando eles como propagadores dessa violência.
Quem é da comunicação, sabe o poder das imagens, como é possível influenciar pessoas, direcionar olhares, sem dizer nenhuma palavra, de como as imagens repetidas à exaustão são capazes de reforçar o nosso olhar sob determinados estereótipos que as pessoas negras são encaixadas.

Qual não foi a minha surpresa quando fazendo pesquisa pra inspiração e ideias de curtas, me deparei com um clip chamado “Until The Quiet Comes” do Flying Lotus lançado em 2012, com cenas, fotografia, cores e narrativa muito similar a Moonlight (2016), que até então foi o que tinha despertado meu olhar pra essa questão do lugar dos corpos negros e das narrativas centralizadas.
Flying Lotus é Steven Ellison sobrinho neto da pianista Alice Coltrane, esposa do lendário jazzista John Coltrane, ele é o cara quando se trata de unir dois gêneros musicais que até então andavam separados, o eletrônico e o jazz. O som que o Flying Lotus – que é produtor, DJ, filmmaker e rapper – produz é pura experimentação, e conta com a colab de nomes como Thundercat e Erikah Badu.
Outro clip do Flying Lotus que dialoga com essa questão do protagonismo dos corpos negros em perspectivas centralizadas é o “Never Cat Me” com feat poderoso de Kendrick Lamar e ainda temos o angustiante – pois fala de morte, tema que ninguém gosta de abordar – “Coronus, The Terminator”, que mostra a morte na visão de quem parte e de quem fica de uma forma reflexiva e inquieta através da experiência de novas e diferentes dimensões.
Indo na onda da multiplicidade de plataformas na hora de pesquisar/falar sobre às diversas construções de masculinidades negras, ainda temos o filme Código de silêncio, da netflix, que aborda como as fraternidades nas universidades americanas são espaços de manutenção de estereótipos masculinos e femininos e como esses mesmos estereótipos são altamente violentos.
E pra fechar, uma última dica, o diretor Kahlil Joseph é o cara por trás do clip “Until The Quiet Comes” e também é o diretor de um dos últimos trabalhos visuais do Sampha.
Assista abaixo:
Imagem: WARP