Jogador caro: Erick Jay, o DJ mais premiado da América Latina

“Você tem que controlar a ansiedade e trabalhar a mente, porque compromete demais se você não estiver bem psicologicamente, se não estiver concentrado de verdade. Qualquer detalhe coloca em risco a sua performance, sua tática em cima do adversário. É pura adrenalina”.

A estratégia  serve para competidores de qualquer modalidade esportiva, porém, a execução dela não é feita em campos, quadras ou algum tipo de ringue. O Erick Jay usa nas batalhas do DMC World DJ Championships, a copa do mundo dos DJs. Foi seguindo esse método à risca que ele sagrou-se campeão três vezes do DMC World (2016, 2019 e 2021) e uma do IDA World (2016), na Polônia. Quando não ocupou o primeiro lugar, o DJ marcou presença entre os 5 melhores.

No domínio das pick-ups desde os anos 2000, Erick Garcia começou a participar dos campeonatos para ganhar visibilidade. Apesar de já tocar nas festas e em grupos de rap, sabia que poderia chegar mais longe. Uma das primeiras disputas dele foi no Hip Hop DJ, competição criada em 1997 pela 4P, encabeçada pelo DJ KL Jay (Racionais MCs) e o rapper Xis. O interesse surgiu depois de nomes que passaram por lá, como DJ Cia, Dj Nuts, Dj King, DJ Hadje, ganharem destaque. Em 2005, Erick ficou em segundo lugar. Mas nos três anos seguintes, levou todos os prêmios para casa.

“Eu entrei no campeonato para as pessoas me conhecerem. Só que aí fui me dedicando mais e mais”, diz à AUR. “Acabou sendo uma opção a mais do ser DJ. Toco nas festas, mas também faço performance. E também não fico limitado”. 

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Depois de ganhar os nacionais, a intenção dele era disputar o DMC World. A premiação internacional só voltou ao Brasil em 2009. Antes disso, o último campeão da versão brasileira havia sido o MC Jack (1996), um dos pioneiros do rap em São Paulo. Na edição de 89 quem ganhou foi o DJ Marlboro, seguido em 90 e 91 pelo DJ Cuca. A volta das eliminatórias no país serviu de porta de entrada de Erick Jay para o mundo. “Aí, era a oportunidade pra gente estar entre os melhores DJs do mundo”, ressalta. 

Mesmo sendo eliminado ainda nas quartas de finais, e outras vezes batendo na trave, o DJ da Zona Leste de São Paulo persistiu. A última conquista aconteceu em 2021 durante a pandemia do coronavírus. Pelas restrições, desde 2020 as performances tiveram de ser feitas online. Mas apesar de o DJ não ter a pressão de estar frente a frente com o público, jurados e seus adversários, o nível de dificuldade não mudou.

“A única diferença é que você pode errar. Você pode fazer várias vezes até acertar. Já presencial não. No presencial é o psicológico e aquela adrenalina de estar ao vivo. Quem é bom faz ao vivo”, enfatiza . “Eles não fizeram as transmissões em tempo real com medo da qualidade, de ficar caindo e acabar estragando o espetáculo. Então, pediram pra gravar e enviar os vídeos nas eliminatórias e nas finais. Mas os jurados são os mesmos que participam nos mundiais, às vezes até mais”.

Foto: Isadora Cardoso

RECONHECIMENTO NO BERÇO DO HIP HOP 

Para ser reconhecido na terra em que o Hip Hop nasceu é necessário surpreender aqueles que ajudaram a sedimentar a cultura. O DJ Erick fez isso, e ainda foi aplaudido de pé. Pela habilidade e a forma única de performar, ganhou o respeito de DJs e MCs consagrados de Nova York, e foi convidado para mostrar suas habilidades na consagrada Scratch Academyc. 

“Eu fui lá, graças ao meu respeito e o diferencial que faço. Porque americano pra te chamar pra colar nesse bagulho é foda. Eles são muito marrentos. Quando eu fiz uma apresentação na eliminatória do DMC em NY estava vários DJs: Cash Money, o Lord Finesse, Jazzy Jay… tinha muita gente. Conseguir o respeito ali foi foda, porque os caras são chatos. Não aplaudem qualquer um. Lá não dá pra ficar pagando pau pros caras. Tem que chegar e destruir”.

Diferente de lá, aqui o tetracampeão mundial não ganhou a devida atenção. O objetivo inicial de ser conhecido demorou para chegar, mas quando aconteceu veio de maneira tímida. “É que nós somos DJ de Hip Hop. Isso não tem muita mídia aqui”, observa. Isso não fica restrito somente àqueles que estão de fora.  Erick destaca que 80% da nova escola do rap (público e artistas) só valoriza os MCs. “Não sabem que é um conjunto. É também uma falta de interesse, de estudar o Hip Hop. Daqui uns dias os beatmakers vão ser mais considerados que os DJs, porque a galera só pensa nos beats. A gente fica preso até dentro do nosso próprio reduto”. 

Considerando as dificuldades que teve ao longo do caminho para chegar onde queria, Jay fez acontecer, independente das dificuldades. Isso não quer dizer que ele fecha os olhos para as constantes banalizações que acontecem com a sua profissão. “Quando acontece, acaba sobrando pra nós, porque aí generaliza por acharem que DJ é tudo a mesma coisa”, diz. “Não olham o universo do DJ. Aí, a galera vai abraçando”. 

Foto: Rafael Berezinski

PLANOS FUTUROS

Depois de conquistar o topo do mundo com seus toca-discos, o DJ mais premiado da América Latina pretende dar uma pausa nos campeonatos. Quer  agora se dedicar aos estudos e a produção de um álbum com a participação de diferentes MCs, que por hora não pretende revelar. Sua ideia é colocar nas ruas ao longo de 2022.

“No Brasil, o DMC já foi mais valorizado, hoje nem tanto”, revela. “Isso ajuda lá fora. Por isso, quero fazer algo que agregue mais na minha vida como profissional. Eu preciso dar um tempo para trabalhar no disco que estou preparando. Queria fazer 2 discos, um de rap e outro de MPB, mas primeiro vou convidar uns MCs pra cantar nuns beats que estou fazendo”.

Outro plano dele para expandir seus horizontes é no futuro sair do Brasil. Só não foi ainda porque acredita que não seja o momento certo, porém, se diz preparado para o desafio. Por enquanto, além de colocar seu projeto na rua, Erick Jay continua tocando em festas e acompanhando Black Alien e  Kamau. 

 “Mesmo sobrevivendo aqui com o que faço, acredito que as oportunidades lá fora são bem melhores. Sempre quando você vai para outro país, você observa realmente que o seu país está atrasado em tudo. Parece que você vai para o futuro e volta para o passado. É quente. Ainda quero mais pra frente ir morar fora. Aqui, as pessoas não estão preocupadas com o seu talento, querem que você fique pagando pau pra elas”.

*Foto de capa: Rafael Berezinski

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