Djonga e Pelé. No Viaduto e no Maracanã.

O Santos dos anos 60 – de Pelé, Pepe e Coutinho e um dos times mais emblemáticos da história – se tornou tão gigante que, mesmo sendo de uma cidade litorânea de São Paulo, escolhia o Maracanã para jogar os seus maiores jogos da época. E os cariocas endossavam o time por puro amor ao bom futebol. O sentimento que eu tenho quando vejo Djonga no Viaduto se compara ao sentimento que meu avô sentia ao ver o Santos de Pelé no Maracanã nos anos 60. A conexão que o artista tem com aquele espaço é mágica. Pelas raízes, pela luta e pela conexão que Djonga e o Viaduto tem em comum.

Poucas vezes vi o Viaduto de Madureira tão cheio. Das barracas de comida até o palco, todo o público presente queria ver um dos rappers que mais verdadeiramente se conectaram com o Viaduto nos últimos tempos. O exemplo que Djonga passa para o seu público é de se admirar. Cheguei em cima da hora do show e vi uma boa parte dele no meio da platéia. O mais bizarro era reparar que uma boa parte da galera, que estava atrás das duas pilastras centrais do Viaduto, não conseguia ver o show e mesmo assim cantava todas as músicas a plenos pulmões e batia palma. A rapaziada que fica grudada nos tapumes de alumínio fora do Viaduto cantavam juntos de forma pesada e batiam na estrutura como se aquele fosse o último show do cara no espaço. Todo aquele ambiente jogava junto com o rapper e mostra que independente do seu tamanho como artista, você precisa ter a obrigação de tocar naquele lugar como um dos seus maiores sonhos. E se você estourar, você precisa voltar e cativar aquele público que não vai te deixar.

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Ver o show da platéia me relembrou da fraternidade entre amigos quando estão juntos vendo um artista que amam de verdade. Em 2009 fui em um show do Rappa na Fundição com 2 amigos e volta e meia aquelas imagens, aquela multidão e aquele choro engasgado que senti quando cantei “Reza Vela” me voltam a cabeça. Eu me senti representado por 3 amigos, sem camisa, abraçados e chorando com “BENÇA”. Juntos, sem vergonha dos seus sentimentos e compartilhando do que era mais importante pra eles naquele momento. O amor pelas suas amizades.

Assim como num estádio, quando o seu time faz um gol, você abraça até desconhecido para compartilhar aquele momento único contigo. Ou numa missa quando você deseja a paz de cristo pra aquela pessoa que tá do seu lado e que você nunca viu. Grandes artistas causam esse impacto e o Djonga é foda por isso. Ele dá o exemplo através da raiva e do amor. Da dor e da família. Da energia e da calmaria. Ele uma atmosfera onde as pessoas vibram, compartilham, se sentem representadas. Meu avô entrava de um jeito no maracanã para ver o Pelé e saía diferente. Eu entrei no Viaduto de um jeito para ver Djonga e saí diferente.

*As fotos são de Lucas Sa

*Agradecimentos ao coletivo O Trem

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