O capitalismo nos coloca em uma condição de insuficiência para diferentes funções e tarefas. Seu objetivo é apresentar ao indivíduo uma única função para que ele se especialize e a desempenhe ao longo da vida focado no pleno funcionamento da máquina, do período da Revolução Industrial até hoje, em um mundo globalizado. O que é totalmente o oposto do que Caio Muniz produz, já que ele é extremamente versátil.
Conheci Caio entre 2015 e 2016 e nunca trocamos uma ideia tão íntima e tão sincera. Sua vida gira em torno da sétima arte, assim como seu amor pela música e gastronomia. Hoje você conhecerá um pouco sobre o primeiro apresentador negro da rede Telecine e um dos melhores comunicadores do nosso eixo.

Caio nasce e vive em Paraty até os 18 anos. Logo cedo, entende seu lugar na sociedade como um homem preto. Estudante de escola pública em uma cidade pequena, ele criou suas próprias aventuras aprendendo sobre a vida e as pessoas ao seu redor. Caio cita uma locadora que teve grande importância na sua formação como admirador do cinema e do audiovisual, e a influência que os jogos de 8 bits lhe trouxeram, como as trilhas de Streets Of Rage e Top Gear, sempre relacionando a comunicação visual com sua forma de enxergar a vida.
O início de Caio Muniz no audiovisual se dá no rock, com a banda Dardos. Ali, Caio aprende a editar os vídeos, dirigir os clipes e fazer parte da produção das músicas. Desde cedo ele opera em diferentes funções, sua sede de aprender é incrível.
Apesar dessas experiências fazerem parte de sua formação como comunicador, o melhor ainda estava por vir, quando Caio vai de vez para o Rio de Janeiro e começa sua graduação na FACHA. Entre contratos de estágio e freelas de projetos, Muniz conhece Breaking Bad e sua mente explode.
Ao conhecer essa série, Caio procura análises, revisões, ou algum material visual na internet para ver e comunicar suas ideias sobre a série, mas não encontra e aí nasce seu canal, “Por que Assistir?”.
Nota-se que seu objetivo não era naquele momento ser um youtuber famoso ou algo do tipo. Ele já pensava em construir algo que servisse de referência para seus amigos, espalhando a mensagem das grandes séries e obras cinematográficas, sendo um dos grandes precursores do formato.
Nessa primeira fase, Caio ainda joga nas 11 entre estágios, freelas, entrevistas de emprego e os vídeos do canal, pois precisa viver e pagar suas contas. Durante esse corre, também teve uma ligação, uma entrevista para o canal OFF e uma derrota por não ter sido selecionado. Mas Caio seguiu com a consciência tranquila por ser original e carismático, o que foi o suficiente para seu currículo ficar no banco de dados do time de recrutadores e entrar em uma peneira para a Rede Telecine. Caio é contratado.
Iniciando no Telecine como estagiário de produção, função que ficou até 2015. Posteriormente sendo efetivado, Caio idealiza o canal “Dá um Play”, uma jogada do Telecine para expandir sua comunicação com a internet. Nessa fase, ele apresenta os quadros, uma tarefa árdua pois produzir semanalmente para uma empresa é diferente de ligar a câmera e editar ao seu modo e subir o vídeo no YouTube de casa.
Com um ano de produção ativa, o canal teve um crescimento absurdo, dando vida à programação diária e o nascimento dos Três Pipocas, um dos grandes quadros da Telecine. Caio se torna o primeiro apresentador preto do canal.
Grandes deveres e grandes responsabilidades, Caio passa a escrever, apresentar, fazer parte da direção, idealização e captação de novas ideias. Ativo pela arte e comunicação, mas consumido pela engrenagem do capitalismo, Caio se vê cansado.
A partir daí, começa uma conexão muito forte de Caio com as reflexões sobre seu papel na cultura e como seu trabalho pode se tornar o mais saudável possível. Ali existe a necessidade de mudar a estratégia.
Mesmo sem parar por nenhum momento, Caio Muniz vira o ano para 2019 com novas ideias, abrangendo novos horizontes — como os trabalhos já realizados para a Downtown Filmes, a maior distribuidora de cinema do Brasil — e a busca por novos contatos. Além de vídeos importantíssimos para a cultura nacional, como seu diálogo sobre This is America, de Childish Gambino, e o Espetáculo da Morte Negra. Uma verdadeira didática sobre a cultura repressora que nos rodeia, um comunicador ativo.
Atualmente, Caio tem novas parcerias e deseja apostar em programas culinários, com um formato diferente do mercado, que surgiu de uma ideia cultural entre ele e seu irmão e fiel escudeiro Bruno Ferreira. Ambos nomearam como BANG BANG.
Ser herói é sair da caixa e fazer o máximo possível para sair isto. É resistir e não ceder ao espírito do capitalismo, é viver pela arte e não ser destruído por ela, é se manter raro, como cada um dos figures, discos, DVD’s e fotos colecionadas em seu quarto, seu canto de criação e amor. Caio é uma personalidade incrível.
*Todas as fotos são de Edson Jonathan