Depois de Negro Swan o quarto álbum de estúdio de Blood Orange, “Angel’s pulse” soa como uma mixtape interessante, não apenas pela experimentação de sonoridades e diferentes tipos de vocais, mas pelo conjunto completo, incluindo a excelente curadoria de participações.
Contextualizando:
Dev Hynes A,K,A Blood Orange é um produtor e cantor britânico. Fez parte da banda Test Icicles e, com o grupo, já apresentava experimentações sonoras mesclando synth e guitarras tendo pequenas aparições nos vocais. A partir de 2011 passou a disponibilizar seus discos por seu pseudônimo, onde temos os interessantes Coastal grooves (2011), Cupid Deluxe (2013), Freetown Sound (2016) e o aclamado Negro Swan (2018).

Apesar das colaborações de Negro Swan serem de peso como A$AP Rocky, Georgia Anne e Steve Lacy, Orange mostrou passear nas produções, sempre leve, fino e, assumo dizer, brilhante. Isso é um fato marcante principalmente por ser uma mixtape, despretensiosa quando falamos de números da Billboard mas direta quando direcionada para o público que acompanha sua carreira.
Angel’s Pulse soa cinematográfico, versa entre o soul, hip hop e variações de guitarra em diferentes coleções e sobras de canções como o mesmo intitula de sobras apaixonadas.
Entre as participações de Angel’s Pulse temos o produtor e músico Toro y Moi em Dark & Handsome, Kelsey lu & Ian Isiah em Birmingham, Good For You com Justine Skye, um interessante toque em Gold Teeth, com Gangsta Boo, Project Pat & Tinashe em que inclusive colabora na faixa 10, Tuesday felling, com excelentes vocais. BennY RevivaL, Arca,Joba e Justine Skye também fazem pontuais participações, já que a preocupação de Hynes nessa mixtape não é apresentar uma acessibilidade abrangente, ele experimenta, recorta e toca a sensibilidade.
Um outro ponto interessante da mixtape está nas letras, que toca nos mesmos assuntos que seus acordes quando canta em Baby Florence (Figure):
“What is it you notice?
All that we do are think in sounds
Can help you figure it out (…)
I’ll help you figure it out.”
Angel’s Pulse repete algumas fórmulas de antigos trabalhos, principalmente quando pensamos na produção, o que não é um ponto negativo, pois soa de forma nostálgica, não repetitiva.
Colaborando com outros artistas de forma inesperada, esse trabalho de Blood Orange, talvez soe duvidoso pela opção de não abordar um tema central, o que para alguns ouvintes novos possa soar um tanto aleatório. Por isso, talvez seja importante ouvir trabalhos antigos do artista para entender melhor seu universo, ou imergir em Angel’s pulse de forma leve, assim como as sensações que o disco transmite.
Angel’s Pulse em uma faixa: Benzo.