Existem algumas coisas que me fazem ser muito apaixonado por rap. Conhecer as reais intenções, a família, as dores, os desejos e traumas de um ser humano é o que faz o Rap ser uma das maiores formas de expressões da história. Eu não quero conhecer um artista pelo os seus stories. Quero conhecer quem eu curto através da música e Akira faz muito bem esse papel.
“Nandi” de Akira Presidente é uma ode a família, ao rap e a perseverança em acreditar em si como artista. A família pois são inúmeras citações sobre sua filha Nandi e sua esposa Ainá, que participa de uma das faixas. E a perseverança pois Akira é uma das relíquias do rap carioca. Primeiro campeão da lendária batalha do real, Akira é um verdadeiro soldado e amante do rap, tendo uma disposição e perspicácia que poucos MCs de sua época tiveram. Sempre se renovando, Akira construiu relações verdadeiras com rappers bem mais novos mas que tinham uma visão nova e fresca da nova cena de rap que estava surgindo. Ao invés de travar batalhas estúpidas entre gerações, onde sempre os mais novos levam vantagem por justamente serem novos, Akira sempre se reinventa e se posiciona como um dos grandes destaques da cena.
A “Intro” do álbum traz a homenageada com o nome do álbum apresentando a obra. Sua filha Nandi conversa com o público apresentando o álbum e as suas participações. “Assumindo o Risco” traz as melhores linhas do álbum.
“Tô assumindo o risco,

de ser feliz muito mais do que só rico.
Sem falar no sacrifício
Minha vida andou só depois do quinto disco”
Esse verso traz a tona a questão da perseverança do Akira em sua carreira. Ele explica em quatro linhas que vai demorar a chegar o que você almeja e é preciso persistir. “Vivo Como Quero” tem um dos melhores beats do álbum e “Livre” traz o feat do Baco Exu do Blues. A rima de Baco fica repetitiva no seu final, mas ele consegue passar a sua mensagem. “Dance” é a track mais comercial do álbum e continua pregando o sentimento de liberdade que foi imposto desde a música anterior. Pelos stories de Bk e Akira, vem clipe em breve.
“Ela Sobe, Ela Desce” é a track mais envolvente de “Nandi” e traz a sua esposa Ainá no feat. Ainá se mostra mais segura e confiante nos seus versos e a sua rima se encaixa perfeitamente no beat de El Lif. Bom ver o crescimento dela como rapper e os olhos estão abertos para suas próximas músicas
“Promessas” é o som mais reflexivo do álbum e, na minha opinião, é a melhor track de “Nandi”. É nessa track que conhecemos mais a fundo o interior de Akira pois é ali que enxergamos os seus medos e desejos. Parece que Akira faz uma reflexão sobre os esporros que ele deve ter recebido das mulheres que sempre cercaram a sua vida, onde ele concorda com elas que precisa cuidar e querer mais de si. E ao mesmo tempo, Akira reconhece os erros e a falta que ele faz dentro da sua família, por conta de sua vida corrida. Não da pra saber ao certo se ele fala diretamente para Ainá, Nandi ou para as duas. É uma conversa sincera sobre família e um reconhecimento de erros pela sua ausaência.
“Lamborghini” traz um feat quente de Bk’ é o tipo de track que vai abrir roda no Circo, assim como “Eles Riram”. “Sem Saída” fecha o álbum e fala sobre respeito e afirmação como homem e rapper. É essa auto afirmação que é sempre necessária pra qualquer homem preto. Mesmo que tenhamos que gritar retoricamente sobre isso.
El Lif, DJ e o principal produtor da Piramide Perdida, dominou o álbum com 9 das 10 tracks sendo produzidas por ele. Somente a faixa “Livre” não esteve nas mãos dele. Foi produzida por um dos maiores destaques da cena dos últimos tempos, a dupla DKVPZ. É com esse tipo de percepção de cena, com as conexões criadas e, claro, com o talento inegável que tem para fazer rap, que Akira se mantém como um dos rappers mais relevantes e vivos do cenário.
*Capa do álbum por Wilmore Oliveira