A coroação de quem acreditou | BK’ no Circo Voador

Histórico. O que vimos no circo voador naquela sexta feira foi realmente impactante. Pra quem gosta de assistir espetáculos sonoros, BK’ e sua banda realizaram um feito que era de alto risco, mas que foi muito bem executado

 

“Esse tipo de arte que a gente faz, eu acho que ela é mais duradoura do que um hit de verão. Acho que isso é pra quem realmente acredita nisso, pra quem gosta de conteúdo. O que essa rapaziada ta fazendo agora, é uma coisa realmente duradoura. Mais do que tomar de assalto a cena, acredito que a gente vá ter uma cena rica e eles vão contribuir muito para a música brasileira.” – Marcelo D2

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O show começou de forma bem impactante.  Logo após o lançamento do álbum, Mano Brown mandou um áudio para BK’ elogiando o disco. Entre outras coisas, Brown dizia que ficou muito feliz pelas ideias passadas e, principalmente, pela sonoridade que tirava o artista da zona de conforto. BK’ e sua banda tiveram a genial ideia de utilizar esse áudio como abertura do show. A galera veio ao delírio e ficou aquecida para o inicio. “Novo Poder”, com seu beat enérgico, foi a melhor escolha para abrir o espetáculo, vindo acompanhada de “O próximo nascer do Sol”

A alquimia entre os álbuns “Gigantes” e “Castelos e Ruínas” foi muito bem pensada e executada para o show. As presenças de Juyê e JXNV$ nas dobras trouxeram calma e euforia para BK’ respectivamente. Enfrentar um circo lotado não é pra qualquer um e a ajuda deles e de sua banda deram a ele a confiança e segurança necessárias para seguir em frente.

 

“Mano e o mlk é isso, ele é um monstro. É um dos melhores liricistas do Brasil, que tem um flow diferenciado que é dele, bagulho característico. E o disco foi isso. Ele é um mlk que tem muita influencia musical e no disco ele botou um peso maior nas bases, tem uma produção muito maior que qualquer trabalho dele. É a coroação de um trabalho, no circo e na nossa área. – Sain

A correria e o risco em se montar uma banda para o lançamento da turnê, foi todo assumido por BK’ e sua equipe. Correria pelo tempo que tinham para montar o show (menos de duas semanas). E risco por escolher essa virada de jogo no lançamento do seu disco na sua cidade. O rolê de montar uma banda, principalmente de qualidade, é muito mais complicado do que qualquer pessoa possa imaginar e BK’ sentiu que aquele era o momento. Numa conversa informal com o cara que viria a ser o diretor musical do show, Theo Zagrae, BK’ lançou a ideia e Theo logo comprou a parada. Em menos de duas semanas eles se enfurnaram no estúdio, juntaram os melhores músicos que tinham em mente (Magno Brito no baixo, Pedro Malcher nos teclados, El Lif nos scratches, Juyê e JXNVS  nos vocais) e montaram um show coeso e direto, que foi dividido em 5 atos, como se fosse uma peça de teatro.

 

Os interlúdios de “Castelos e Ruinas” foram bem utilizados para mostrar ao público que uma outra onda sonora iria se iniciar. BK’ já impressionava os fãs em seus shows com o DJ El Lif virando as bases e JXNV$ fazendo as dobras. Nessa performances com banda  – que teve a honestidade e sagacidade em manter a mesma sonoridade ouvida nos álbuns – o resultado foi impulsionado para outros lugares, educando o seu público a querer ouvir rappers se apresentando naquele formato.

 

 

“Acho que é o momento de tomar o que é nosso. Sempre foi nosso na realidade mas por um tempo nos foi tomado. Acho que estamos num momento lindo, dá pra bater no peito e de fato falar pretos no topo. Essa é a parte mais gratificante. Acredito que o que eu falo e o que o BK’ fala pessoas brancas podem ter empatia e gostar. Mas entender de fato e sentir na pele, só gente preta.” – Baco Exu do Blues

 

As participações foram os pontos altos do show. O lendário saxofonista Léo Gandelman foi o primeiro a subir no palco com o seu saxofone no pescoço e um na mão para dar de presente a BK’, que ficou visivelmente emocionado com aquilo. Quando a banda soltou a intro de “Vivos”, BK’ cantou uma parte de “Me desculpa JAY Z” preparando com classe a entrada de Baco. Marcelo D2 e Sain colaram para cantar “Falam” e juntos deram um abraço gigantesco em BK. Drik Barbosa subiu e a mulherada preta presente a recebeu com muitos aplausos. Junto com Akira e fizeram o remix de “Correria”.

 

O ultimo ato do show foi muito bem pensado. Com a confiança de que o público iria pedir Bis, BK’ volta ao palco com todos os integrantes da Piramide Perdida  subiram ao palco e cantaram todos os hits da banca. “Mec Life”, “Top Boys”, “$$$$$$$”, deram ao público a antiga formação de show do artista com o palco cheio de amigos e El Lif virando as bases. Sacada inteligente pra não fazer essa mudança de carreira de forma brusca. O clássico “KGL” abriu uma das maiores rodas que o Circo já viu, com a formação original do Néctar Gang.

 

No pós show, BK’ estava aéreo. Ainda processando tudo de mágico que tinha acontecido naquela noite. Até pouquíssimo tempo atrás, estávamos trabalhando na mesma festa juntos. Eu como DJ e ele como MC. Antes de “Castelos e Ruínas”, antes de AUR, ou de qualquer outro projeto mais ou menos realizado. Tudo era vontade, sonho e desejo de execução e realização. Ver o meu rapper favorito sendo coroado na casa mais foda da cidade é um triunfo enorme pra quem quer viver de arte. A inspiração que aquele show passou para quem estava por lá foi real e é isso que a gente precisa. Pessoas talentosas parecidas com nós, colocando a gente pra cima.

“O mesmo conselho que o BK de 2013 deu pra ele mesmo. Não desiste mano. É tudo ou nada mas de uma forma que não pareça que se você não conseguiu de uma vez, você não vai conseguir nunca. E isso não é real. É você insistir e sempre ver aonde você erra. Em “Castelos e Ruínas” eu vi onde eu errei e tentei melhorar, em “Gigantes” eu já sei onde eu errei e vou tentar melhorar no próximo álbum. É um papo meio cliche mas é um papo reto, é acreditar e botar a cara.” – BK’

 

Entrevista: Pedro Bonn

Fotos: Lucas Sá

Agradecimentos a Namoral Produções e ao  Circo Voador

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