Não é como se Abel Makkonen Tesfaye A.K.A The Weeknd fosse apenas um cantor pop que a cada lançamento arrasta multidões. A linguagem em todos os projetos, desde Echoes of Silence e Thrusday (2011) ou até mesmo Trilogy (2012) são marcados por uma linguagem suja e totalmente desproporcional ao que é vendido pela indústria dos grandes hits.
O que mudou desde House of Ballons? A internet e as relações sociais se tornaram mais dinâmicas, quase vazias, e é a partir disso que The Weeknd encontra críticas, experiências pautadas na vida, nos dias de hoje e como sua voz quase que angelical consegue servir de molde para novas gerações, sem precisar de Grammy ou qualquer outro prêmio tradicional.

Não podemos falar sobre o gigante instantâneo After Hours sem tocar em discos que projetaram abel em nível absoluto internacionalmente, como Beauty Behind the Madness (2015) e Starboy (2016), ambos projetos com texturas únicas e um Abel que sempre toca no ponto-chave: produções longas e totalmente fora daquilo que é vendido comercialmente.
After Hours expande o território criativo de Abel em um nível astronômico. O projeto recicla elementos dos anos 1980, tocando desde o pop clássico até as obras de artistas incríveis como Michael Jackson e Prince.
O principal ponto da obra aqui é o aspecto monotemático, inclusive pelas características visuais e as linguagens dos clipes e da capa, mostrando um The Weeknd estabelecido e ousado dentro dos próprios universos que cria.
Sobre o Grammy
Por que um álbum com tanta força e magnitude foi recusado pela Academia? Sem nenhuma menção, a maioria do público que acompanha seu trabalho se sentiu injustiçada pela decisão dos organizadores do Grammy que já vem sendo criticado por artistas como Kanye West, Frank Ocean, Jay-z, J Cole, Kendrick Lamar, entre outros tão importantes para a música internacional.
Mesmo com hits como Blinding Lights e In Your Eyes no top 10 da Billboard a Academia o negou. Números, no final das contas, não representam conceito. A resposta pode ser puramente racismo: a bancada que cuida do Grammy pode ter simplesmente vetado Weeknd e dado espaço para artistas brancos que favorecem a indústria com jabá e trocas comerciais.

As produções visuais de After Hours
Heartless e Binding Lights são obras primas. Abel não se manteve fixo em nenhum padrão previamente estabelecido. O disco funciona de um outro jeito quando você acompanha as produções audiovisuais cinematográficas, que contam com referências a Martin Scorsese, ao filme After Hours de 1985, além de uma mescla de elementos dos anos 1980 e dos dias de hoje.
Nos temas visuais vemos problemas como vício em drogas, a frustração por essa problema e o sofrimento do artista. São pontos altos da obra, que mostra toda a fragilidade de forma dramática.
Outro duo de vídeos está em Too Late e Save Your Tears. Aqui, vemos uma narrativa que dialoga sobre a hipersexualização do homem negro e como as consequências disso deixam sequelas em seu próprio corpo. Uma forma sublime de dizer algo tão marcante em nossa sociedade.

Super Bowl
O tempo passou e, no dia 7 de fevereiro, The Weeknd se apresentou no final da temporada da NFL, o Super Bowl. Além dos quase 15 minutos de apresentação de tirar o fôlego, o artista não mediu esforços para fazer aquilo que sua arte manda.
Abel investiu do próprio bolso cerca de 7 milhões de dólares, atendendo às expectativas do público e esfregando de uma vez por todas na cara de qualquer acadêmico que é um artista no topo da indústria. No final de tudo isso, The Weeknd não precisa de qualquer premiação tradicional, nós quem precisamos dele.
Por fim, a questão final que fica é: por quanto tempo a indústria cultural irá conseguir conter artistas como Abel, que fura todas as bolhas do sistema, e virá rastejando até eles?
